A semeadura é livre. A colheita, obrigatória.



Ajude-me, Deus, na seara pessoal...
A escolher quais sementes com sabedoria,
A não plantar o desnecessário!
(e se houver expensas pela fertilidade sublime do solo que o Senhor Criou, impeça-me de armazenar ou oferecer aos meus prediletos, mas sim aos que jamais me conhecerão).

Ajude-me a não plantar sequer um grão a mais do que darei conta de colher, castigando a terra com minha lentidão.
Ajude-me a não apressar com excessos de água e luz, desrespeitando o tempo precioso...
Mas aguardar vigilante, educando o amor e a paz do espírito enquanto minhas sementinhas crescem.

Ajude-me a não devastar o Terreno Consignado, muito menos entendê-lo como meu;
Diante do piso emprestado, impeça-me de efetuar mudanças indevidas. O que me rasgaria a existência, e arrastaria aos registros eternos, minha assinatura infeliz.

... Quando, Senhor, as sementes se transformarem... Como o milagre que o tempo oferece à salvação, quando minha plantação estiver folhosa e robusta, que algo semelhante se opere também em mim.

Então, ajude-me a retirá-las aos brotos e frutos com todo cuidado, refazendo a porção de solo e devolvendo-o imaculado como era antes de minha passagem,
... para que outros venham! e obtenham os mesmos benefícios que obtive ali:
O mesmo sol, para sãos e enfermos. O mesmo vento, para cativos e forasteiros. O mesmo Amor teu, a débeis e a serenos!... A mesma paciência, remediando cada um dos Filhos queridos, meus irmãos.

Ajude-me a não ocupar espaço com a minha presença sentinela, porque meus passos são muito pesados ainda. Em nada protegeriam as arvorezinhas, e ainda amassariam a terra fofa que já recebeu a charrua perfeita.

Cumprida a safrinha santa, que eu me deite devagar até relar a face sobre a terra, e minhas mãos a acarinhem agradecidas aos calos e espinhos, como se num abraço grato pelo sustento provido, e à sombra do repouso, eu sentisse sem medo, ter feito o melhor naquele perímetro.

Abata-me sem misericórdia, se um dia qualquer porção de solo se tornar infértil por meu desastre.
E então, que o sustento da colheita me sirva de forças brandas para o dia de despojar a matéria, sem temor de quaisquer dependências...

Ah, e que um dia eu possa saber, de onde eu estiver,
que ali tinha café,
maçãs, amoras, cerejas, castanhas,
sombra para descanso,
galhos de balanças infantis,
casinhas montadas por crianças,
raízes de saúde à gramíneas verde-limão,
algumas rosas e outras flores,
colméias fartas de mel,

E ninhos de pássaros bebês, assumindo a música de cada manhã.